De 3 a 7 de junho, acontece em Lisboa a Mostra de Cinema Piracema Nu Bai, com foco no cinema Indígena, Negro e Periférico. O festival faz parte das iniciativas de extensão do projeto EDGES. A Mostra acontecerá em vários espaços da Grande Lisboa – Casa do Comum, Cinema Fernando Lopes e Mbongi 67, reunindo cineastas indígenas da América Latina e realizadores negros residentes em Portugal e na Europa.
A mostra propõe um olhar inovador sobre cinematografias historicamente marginalizadas no circuito cultural, promovendo o encontro entre diferentes expressões estéticas e experiências de resistência. Enquanto cineastas e pensadores indígenas, estarão presentes Olinda Tupinambá e Ziel Karapotó (Brasil), Francisco Huichaqueo (Chile), Citlalli Andrago e Joshi Espinosa (Equador), que dialogarão com realizadores afrodescendentes baseados na Europa.
Todos os filmes com legendas em português.
Locais:
Casa do Comum | Rua da Rosa, nº 285, Lisboa (entrada gratuita)
Cinema Fernando Lopes | Universidade Lusófona, Campo Grande, nº 376, Lisboa (entrada €3)
Mbongi 67 | Praceta António Sérgio, nº 4, Queluz (entrada gratuita)
INSCRIÇÕES (obrigatória até dia 3 de junho)
Curadoria: Amalia Cordova, Francisco Huichaqueo, Joshi Espinosa, Maíra Zenun, Olinda Tupinambá, Rodrigo Lacerda e Ziel Karapotó.
PROGRAMA
3 JUNHO
18H30 | Perfomance TRANSMUTAÇÃO
Local: Jardim do Príncipe Real
Performance com os artistas indígenas Olinda Tupinambá e Ziel Karapotó
21h30 | ENCONTROS
Local: Casa do Comum
Com a presença de todos os realizadores
Tralkan Küra / Piedra Trueno
Francisco Huichaqueo, 2022, 10’
Piedra Trueno na língua mapuche foi filmado na localidade de Chamichaco, Ercilla, Chile. A dança do Choike purün e kollón purün foi realizada em território familiar actualmente ocupado por uma empresa florestal. A decisão de realizar este acto partiu do menino Héctor Carilao Rukal, de 12 anos de idade; a sua opinião foi considerada como um acto colectivo e de necessidade comunitária. O cerro pertence aos avós da mãe do menino, Leticia Rukal. Os avós desflorestaram o cerro de pinheiros e eucaliptos, queimando-os para fazer carvão. O peñi ou irmão na língua Mapuche, Héctor Carilao Rukal, realiza a ritualidade nas cinzas, e a minha câmara segue como um püllü, ou espírito acompanhante.
O Verbo se fez Carne
Ziel Karapotó, 2019, 7’
A invasão dos europeus em Abya Yala nos deixou cicatrizes. Ziel Karapotó utiliza seu corpo para denunciar a imposição da língua do colonizador aos povos indígenas, uma face do projeto colonialista.
Pés firmes na terra estremecida
Izabelle Louise, Lauriane Tremembé, Keven Tremembé e Iago Barreto 2025, 16’
Um filme encantado é um filme Tremembé. “Pés firmes na terra estremecida” brota sua semente a partir da encantaria, da ancestralidade, da memória e do território. Produzido na Terra Indígena Tremembé da Barra do Mundaú, em Itapipoca (Ceará, Brasil), o filme nasce da colaboração de artistas indígenas aldeados e descendentes Tremembé. A narrativa se constrói a partir dos elementos da natureza e da oralidade, revelando a presença dos seres encantados da cosmogonia – Mulher da Trouxa, Mãe D’água e Cobra Branca. Entre dunas, mares, rios e manguezais, a obra propõe uma experiência sensorial e poética a partir de um tempo circular que retoma uma pajelança imagética das memórias coletivas e ancestrais.
Um rio chamado comboio da linha de Sintra
Maíra Zenun, 12’
Mi Ayllu
Joshi Espinosa, 2008, 9’
O José ficou. Os seus irmãos partiram para longe do Equador. Através das memórias dos pais e das razões dos irmãos, tenta compreender porque é que todos seguiram caminhos diferentes.
Preconceito
Olinda Tupinambá, 2021, 6’
Preconceito é um trabalho de videoperformance que fala sobre o persistente estado de preconceito enfrentado pelos povos indígenas.
4 JUNHO
19H | SOM ANCESTRAL
Local: Casa do Comum
Realizadores presentes: Francisco Huichaqueo, Olinda Tupinambá, Ilda Vaz, Joni
Kuifi ül / Sinodo Antiguo
Francisco Huichaqueo, 2020, 10’
Filmado no primeiro dia de Wiñol Tripantü, está habitado pelo canto da trutruka, um instrumento de sopro que ressoa nos cerros e por todo o território durante vários dias durante a cerimónia. Kuifi ül, o som dos ancestrais humanos e não humanos, atravessou o tempo para estar no tempo presente; o som antigo tem acompanhado a grande comunidade mapuche, fortalecendo a nossa espiritualidade. A função dos trutrukeron é herdada dentro da família, tal como a Kalfümalen, que cavalga com o seu pai pelos bosques mapuche a caminho da grande cerimónia do Nguillatun. Kuifi ül é o som antigo dos corpos de água, das florestas profundas do Wallmapu e da nossa memória em forma de ül. Território Ancestral: Wallmapu, Malhuehue, comunidade Mapuche, Chile.
Áfrika
Ilda Vaz Kontadera, 4’
A Kalunga de Ossayn
Joni, 2023, 9’
Montagem e captação da performance A Kalunga de Ossayn para Tony Omulu, em Lisboa, exibido na Junta de Freguesia da Misericórdia.
Ibirapema
Olinda Tupinambá, 2022, 50’
Viajando entre o mundo mítico e o mundo cotidiano, Ibirapema, uma indígena Tupinambá, se transmuta e percorre o espaço e o tempo, dialogando, por onde passa, com o mundo da arte ocidental, com a cidade e seus espaços de concreto e florestas domesticadas.
21H30 | FLORESTA É CINEMA
Local: Casa do Comum
Sessão em colaboração com o Cine Tuiuiú
Blow
Pocas Pascoal, 2024, 10’
Aguyjevete Avaxi’i
Kerexu Martins, 2023, 21’
Uma celebração da retomada do plantio das variedades do milho tradicional do povo Guarani M’bya na aldeia Kalipety, onde antes havia uma área seca e degradada, consequência de décadas de monocultura de eucalipto.
Mãri hi – A Árvore do Sonho
Morzaniel Ɨramari, 2023, 18’
Quando as flores da árvore Mãri desabrocham surgem os sonhos. As palavras de um grande xamã conduzem uma experiência onírica através da sinergia entre cinema e sonho yanomami, apresentando poéticas e ensinamentos dos povos da floresta.
Bakish Rao: Plantas en Lucha
Comando Matico e Denilson Baniwa, 2024, 16’
O filme é uma ficção científica que especula sobre as plantations e o futuro do planeta a partir da perspectiva das plantas e através da experimentação com o universo vegetal. Assim, descentrada a perspectiva humana, é uma experiência colaborativa entre linguagens artísticas e debates científicos, bem como um ensaio que explora os limites da comunicação propondo uma especulação multiespécies para narrar a história da destruição da floresta e as formas de resistência à homogeneização ecológica e do pensamento.
The Return to the Amazon: escaping Ecuador’s Covid outbreak
Eriberto Gualinga, 2021, 17’
Enquanto milhões de pessoas em todo o mundo entraram em confinamento devido à crise do coronavírus, uma família na Amazónia equatoriana optou por se mudar para mais profundamente dentro da selva, em busca da segurança relativa que ela oferece.
5 JUNHO
21H30 | O CINEMA É UMA FLECHA
Local: Casa do Comum
Realizador presente: Maíra Zenun
Sha’à
Peregrino Shanocua Chaeta, 2023, 3’
Sháa é um filme íntimo e pessoal sobre a luta de Peregrino para defender o seu território ancestral, num país que não é capaz de proteger a sua vida. Peregrino é um jovem cineasta indígena de Madre de Dios, no Peru.
Tupinambá na Baixada Santista
wescritor, 2022, 6’
Eternizando a vida e resistência dos povos Guarani Mbya, Tupi Guarani e Tupinambá na Baixada Santista. Este trabalho enfatiza as dificuldades dos povos originários existente em meio ao litoral do estado de São Paulo, visando também enfatizar a força cultura e vida do Tronco Tupi através do Ritmo Ancestralidade e Poesia, RAP.
Tuire, o gesto do facão
Simone Giovine, Coletivo Beture, 2024, 9′
A guerreira Tuire relata para o neto Patkore detalhes sobre o lendário gesto do facão na mobilização contra a Eletronorte, em Altamira (PA), no ano de 1989.
Minha câmera, minha flecha
Natália Tupi, Guilherme Fascina, 2023, 19’
Richard Wera Mirim é um jovem Comunicador Indígena do Povo Guarani Mbya da Terra Indígena Jaraguá, território que ainda resiste às margens da Rodovia dos Bandeirantes, em São Paulo. O filme traz um pouco de sua trajetória, aliada à força do audiovisual e do uso das redes sociais na luta e resistência indígena. Mostra a câmera como uma flecha, uma ferramenta de comunicação poderosa, uma arma para registrar e retratar, com o olhar de quem vivencia a cultura, os conhecimentos, os territórios e demais aspectos dos povos originários pelo direito de existir.
Memórias de Abril
Maíra Zenun, 2024, 23’
Onde estão guardadas as recordações afetivas das pessoas negras que compõem a população de Portugal? Um país preso ao delírio imperialista, ornado em padrões monumentais que são uma ode às invasões coloniais. Em quais álbuns da família portuguesa, temos o protagonismo de suas trajetórias registrado? Foi pensando em tais questões, cruciais para compreendermos a nossa sociedade, que a Nêga Filmes teceu MEMÓRIAS e HISTÓRIAS, duas obras dedicadas ao arquivo familiar fotográfico negro português.
A última cena
Alberto Alvares, 2024, 20’
Chegadas, partidas, idas e vindas, na cena da vida nunca saberemos quando será a despedida, nem a última cena que deixaremos registrada na memória da vida de alguém. O filme A Última Cena é uma homenagem as últimas imagem que registrei dos sábios Domingos Venites, Ramon e o Miguel Benites e que continuam vivas em nossa memória.
6 JUNHO
19H | CIDADE-COMUNIDADE
Local: Cinema Fernando Lopes
Realizadores presentes: Joshi Espinosa, Citlalli Andrago, Ziel Karapotó
O que me leva não é a mercadoria de bolso
Barbara Matias Kariri, 2022, 6’
A migração da artista indígena Kariri Barbara Matias para o contexto urbano em 2011 implantou nela várias demandas, as quais são narradas por meio de sementes, moedas e o documento da identidade. O filme elabora perguntas a cerca das opressões cotidianas e lembra detalhes da cultura da artista.
Yellow Fever
Ng´endo Mukii, 2012, 7’
Yellow Fever é um documentário de animação em técnica mista da realizadora queniana Ng’endo Mukii. A curta-metragem, que serviu como projecto de tese de Mukii no Royal College of Art, em Londres, é uma cativante fusão de imagem real, stop-motion, spoken word e animação desenhada à mão, que explora os efeitos dos ideais de beleza eurocêntricos, disseminados pelos meios de comunicação e pela publicidade, nas mulheres africanas. Com uma duração de pouco menos de sete minutos, o filme de Mukii destaca a insatisfação que algumas mulheres de pele mais escura sentem com a sua tonalidade, e as medidas frequentemente prejudiciais que tomam na procura de uma pele mais clara — nomeadamente através do uso de produtos de branqueamento da pele (conhecidos no Quénia como mkorogo). Yellow Fever aborda ainda a forma como estes padrões de beleza são transmitidos de geração em geração, com um momento particularmente marcante no filme a ocorrer quando a sobrinha de Mukii confessa sentir um certo desconforto com a sua pele escura sempre que se vê ao espelho.
Paola
Ziel Karapotó, 2022, 16’
Um filme realizado por uma equipe de sete indígenas de diversos contextos: nascidos em território demarcado, nascidos em contexto urbano e em contexto de retomada. O protagonismo se trata de Paola, uma mulher trans/travesti indígena, nascida na comunidade Karapotó, no interior de Alagoas. É um filme feito coletivamente em um processo híbrido de ficção e documentário. Abordamos a questão trans indígena a partir do encontro de Ana Paola Karapotó com a equipe do filme, sobretudo com Ziel Karapotó, primo da protagonista e diretor do filme.
Huahua
Joshi Espinosa, Citlalli Andrago, 2017, 69’
Um jovem casal descobre que está à espera de um bebé. Esta notícia desperta a sua preocupação sobre a identidade com que irão educar e criar o huahua que vem a caminho. José, o futuro pai, regressa à sua comunidade em busca de respostas sobre as suas raízes. Citlalli, a futura mãe, reflecte sobre a sua identidade, sendo filha de pai indígena e mãe mestiça. Ambos terão de enfrentar as imposições de uma sociedade globalizada e a situação actual da sua cultura, do seu povo e da sua identidade.
21H30 | HORA DE MUDAR
Local: Cinema Fernando Lopes
Realizadores presentes: Francisco Huichaqueo
Pinjawuli: o veneno me alcançou
Bih Kezo, 2021, 2’
O filme está nos limites entre a ficção e o documentário, baseado em um sonho do próprio diretor, Bih Kezo. Os povos Manoki e Myky sabem que os seres que compartilham o mundo com os humanos estão pedindo ajuda para nós, sobretudo para os indígenas, que conhecemos a existência das Mju’u, as mães da terra. No filme, o avião persegue Bih por todas as partes da aldeia, assim como na realidade: as aeronaves que passam veneno nas lavouras vizinhas sobrevoam constantemente a aldeia Paredão, em Brasnorte-MT. Sempre na época logo após o plantio, a comunidade sente o cheiro de veneno dentro da aldeia, o que causa grande preocupação às famílias, levando em conta o crescente número de agrotóxicos que vêm sendo liberados no Brasil, sobretudo nos últimos anos.
Hora de Mudar
Pocas Pascoal, 2024, 6’
A realizadora e argumentista angolana Pocas Pascoal lembra-nos que é hora de mudar, propondo através deste filme um olhar sobre o colonialismo, o capitalismo e o seu impacto na biodiversidade global. Observamos que a destruição do ecossistema remonta a um tempo anterior, estando já em curso através das ações de exploração da terra, da caça grossa e da exploração do homem pelo homem.
Kanau’Kyba
Gustavo Caboco e Pedra do Bendegó, 2021, 11’
Kanau’Kyba significa Kaminhos das Pedras em nossa língua Wapichana. Atravessamos diferentes paisagens que conectam as pedras do céu às pedras da terra ancestral. Das caminhadas nas pedras terrenas na Serra da Lua, em Roraima, na Terra Indígena Canauanim, nos conectamos às pedras no Paraná, na cidade de Kurityba. Campo em chamas. Das cinzas no Museu Nacional do Rio de Janeiro e a pedra do bendegó ao recado da borduna: não apagarão a nossa memória.
Recado do bendegó
Pedra do Bendegó, 2021, 11’
“Conversas com a pedra” é uma das propostas que Gustavo Caboco e seus familiares realizaram no Museu Nacional do Rio de Janeiro em 2021, morada da pedra do Bendegó. Ouvir a pedra surge como uma proposta de escuta da perspectiva do meteorito frente às chamas e narrativas de reconstrução do museu. Recado do Bendegó se apresenta como uma forma de ecoar os recados desta pedra do céu, que ao ser questionada, revela uma perspectiva da história do brasil colonial, desde seus encontros com Dom Pedro II, Spix e Martius em Monte Santo no sertão da Bahia, o interesse da comunidade científica nessa pedra em detrimento da ciência indígena e popular frente a pedra e seu deslocamento ao Museu Nacional do Rio de Janeiro.
Kúnü, Un espacio para el dialogo
Francisco Huichaqueo, 2023 62’
É o esforço colaborativo de 80 comunidades Mapuche para reivindicar parte de suas terras ancestrais diante de uma grande empresa florestal transnacional no Chile, na região da Araucanía-Loncoche. Künü documenta a criação de um espaço para diálogos difíceis entre grupos com uma longa história de desconfiança e desequilíbrios de poder, mas que, ao mesmo tempo, coloca no centro a perspectiva do exercício da autodeterminação ancestral e política diante das adversidades locais. As grandes empresas florestais estabelecidas em todo o território ancestral iniciaram as plantações de monocultivo no final dos anos 1980, em plena ditadura militar. Essas empresas contam com respaldo econômico do Estado chileno, perpetuando assim o modelo econômico e extrativista que atenta diretamente contra o modo de vida Mapuche, alterando significativamente a biodiversidade. Território Ancestral: Wallmapu, Loncoche, Chile.
7 JUNHO
10H | NOZ STÓRIA
Local: Portas de Benfica
Preço: 30€/pessoa
Inscrição obrigatória até dia 3 de junho:
“Noz Stória” é uma caminhada guiada por Sinho Baessa que propõe uma imersão na história dos bairros negros que se formaram nos arredores de Lisboa. O objetivo é dar visibilidade a comunidades historicamente invisibilizadas pela narrativa dominante da cidade, questionando: por quê, por quem e como essa invisibilidade se construiu? A atividade promove a escuta e a partilha de memórias, abordando temas como o racismo institucional, a questão da habitação, e as formas de resistência e resiliência das comunidades negras — por meio da cultura, da língua crioula, da música (batuque) e da culinária.
Contextos abordados: Racismo institucional e habitação em Lisboa; Resgate e partilha de memórias; A importância das comunidades na preservação de tradições culturais; Conexões entre diferentes bairros negros de Lisboa.
Objetivos: Aumentar a consciência crítica sobre o racismo estrutural e o legado do colonialismo em Portugal; Criar um espaço de troca de saberes e experiências a partir das vozes e vivências da comunidade; Proporcionar uma experiência envolvente e reflexiva para os participantes.
16H | SESSÃO JUVENIL
Local: Mbongi 67
Realizador presente: Denise Santos
No Tempo do Verão
Wewito Piyãko, 2013, 22’
É fim de semana e as crianças Ashaninka deixam a escola e partem, rio acima, para acampar com os pais e aprender a vida na mata.
IN-CORPO-RAR | Corpos nos Espaços e Espaços nos Corpos
Denise A. Santos, 2021, 8’
Corpos negros são diariamente questionados e posicionados, subjugados às suas camadas interseccionais. O corpo torna-se a figura central nas suas diversas formas de ser, físico, mental/psicológico e urbano/ambiente. Como mulher negra portuguesa, sinto determinados efeitos dessas camadas sociais e revejo-as em irmãos e irmãs subalternizados. Deste conjunto de conexões é projectado o presente vídeo intitulado In-corpo-rar que parte especificamente da reflexão sobre o corpo negro, a identidade e sentimentos adjacentes. No filme encontramos colagens que compõem a narrativa visual, auditiva e histórica, coletivamente refletem a ideia de camada corporal e camada social. A narrativa é uma manifestação de constantes explorações entre espaços nos corpos e corpos nos espaços aliado à sua persistência de corporificação individual e coletiva, abreviando observa-se um processo de luta para In-corpo-rar cada fragmento do corpo negro.
Akababuru: expresión de asombro
Irati Dojura, 2024, 14’
Kari, uma menina indígena que tem medo de rir, conhece Kera, que lhe conta o mito de Kiraparamia, uma mulher castigada pelos deuses por rir do marido. Kera reinterpreta essa história e diz-lhe que o riso foi o que a libertou. Inspirada, Kari usa o riso para enfrentar aqueles que a incomodam.
Ibegwa
Duiren Wagua, 2024, 11’
Ibegwa é uma curta-metragem que conta a história de Guani, um menino Gunadule albino que vive sob constante discriminação por ser diferente. Para escapar da sua realidade, Guani inventa um amigo imaginário, Nuchu, uma personagem que o guia e com quem constrói o seu próprio universo através de jogos.
Osiba Kangamuke – Vamos Lá, Criançada
Haja Kalapalo, Tawana Kalapalo, Thomaz Pedro, Veronica Monachini, 2016, 19’
As crianças da aldeia Aiha Kalapalo, do Parque Indígena do Alto Xingu (MT), são as protagonistas desse filme e nos mostram alguns aspectos de sua rotina, cultura e íntima relação com a natureza. Da escola, onde aprendem o português, até os rituais e a luta ikindene, os pequenos Kalapalo demonstram suas tradições com sutileza peculiar.
18H | RETOMAR E REPARAR
Local: Mbongi 67
Realizadores presentes: Olinda Tupinambá, Ziel Karapotó
Manchê Bom
Petra.Preta, 12’
Vou repetir-me: Estar na margem é fazer parte de um todo que não te reconhece como parte do corpo principal. Implica uma travessia repetitiva de fora para dentro. E com o entrar, vem a obrigação de sair. De lá para cá, resistir à violência. De cá para lá, resistir à violência. Tabanka é foi a proposta de um espaço seguro e mutável, entre a proteção e a cura. E este é um caminho para lá chegar. Um mapa ao contrário, onde se devolvem tesouros. Porque isto é sobre inverter percursos e a tentativa de reclamar o espaço do sonho.
Oca no Buraco Fundo
Ziel Karapotó, 2022, 30’
Oca no Buraco Fundo é uma produção audiovisual híbrida, encruzilhada entre vídeo performance, vídeo arte e vídeo dança. Por meio da corporeidade almejo promover construções de paisagens contra narrativas aos discursos hegemônicos sobre as identidades e territorialidades indígenas na contemporaneidade. Consequentemente, sinalizar fabulações sobre o meu (r)existir no contexto periférico da Região Metropolitana de Recife, apresentando o lugar no qual elaboro estratégias de territorialização e reafirmação da minha identidade originária.
Kaapora, o Chamado das Matas
Olinda Tupinambá, 2020, 20’
Uma narrativa da ligação dos Povos Indígenas com a Terra e sua Espiritualidade, do ponto de vista da indígena Olinda, que desenvolve projeto de recuperação ambiental nas terras de seu povo. Tendo a cosmovisão indígena como lente, a Kaapora e outros personagens espirituais são a linha central da narrativa e argumento do filme.
Latitude Fênix
Welket Bungué, 2024, 15’
Nesta ilha, a Princesa de Ébano, Maria Correia, é invocada pela voz de artistas contemporâneos, qual Fénix. Ela é recebida pelo Barão de Água Izé. Nesta latitude, dialogamos com o quilombismo e a transmutação, dançamos e celebramos o aquieagora. Se queres ir depressa vai só. Se queres chegar longe vem connosco.
Hijos de la terra
Diego Sarmiento, 2014, 15’
Cedo de manhã, Jorge colhe bananas para o pequeno-almoço. Ele e os seus amigos caminham livremente pela exuberante vegetação que rodeia a sua casa: sobem árvores, divertem-se, cantam canções da colheita e brincam nos rios da Amazónia. Este documentário é visto através dos olhos das crianças. As cenas do quotidiano descrevem a vida pacífica da comunidade kechwa-lamista Chiriqyako, na Amazónia peruana, onde se dedicam ao cultivo de alimentos e não há muito para vender, mas o dinheiro não parece ser o mais importante.
20H | JANTAR CONVÍVIO
Local: Mbongi 67
Preço: 7€/pessoa
Menu: jantar-lanche com quitutes da culinária cabo-verdiana e brasileira, com cuscuz, pastinhas, pastel de milho, bolo, chás e sucos de calabaceira e bissapi.
Inscrição obrigatória até dia 3 de junho:
21H30 | MULHERES-TERRITóRIO
Local: Mbongi 67
Realizadores presentes: Olinda Tupinambá, Falcão Nhaga
O Parto
Olinda Tupinambá, 2021, 9’
Em atuação performática, o curta O Parto busca explorar discussão sobre a criação, a existência e a vida, através da ótica indígena, conectando com a atual realidade vivida pelos povos originários durante os anos de pandemia de COVID 19.
Spirit Women
Francisco Huichaqueo, 2019, 43’
Este filme liga-se ao retrato de cinco mulheres unidas pela espiritualidade e pela poesia. Cinco mulheres interpelam a câmara com as suas palavras floridas; elas não se conhecem entre si, mas a força declamatória dos seus territórios une-as, formando uma trama fílmica que as unirá para sempre. As línguas Stotsil (México), Mapuzungun (Chile), Quíchua (Bolívia) e o espanhol, línguas belas, dão forma ao campo da semântica não só da palavra, mas também enriquecem a sonoridade própria da língua materna, conduzindo a uma viagem pelo espaço espiritual próprio de cada mulher e do seu território.
Místida
Falcão Nhaga, 2022, 30’
Uma mãe vai às compras e o peso dos sacos magoa-a. Pede auxílio ao filho que vem para a ajudar a carregar as coisas no caminho até casa. Ao percorrerem a distância, lidam também com as questões que os assolam.
BIOGRAFIA CURADORES
Amalia Córdova é curadora supervisora no Centro de Tradições Populares e Patrimônio Cultural do Smithsonian Institution e co-dirige o Festival de Cinema da Língua Materna. Ela foi uma especialista latino-americana do Centro de Cinema + Vídeo do Museu Nacional do Índio America-no do Smithsonian e lecionou na Gallatin School of Individualized Study da New York University (NYU). Ela tem um Ph.D. em Cinema Studies e um M.A. em Performance Studies pela NYU. Seu livro, Frames of Resistance: the Cinemas of Abya Yala, acaba de ser publicado pela Oxford University Press. Ela é de Santiago, Chile/Wallmapu.
Francisco Huichaqueo é artista, cineasta e curador. Nasceu em 1977 na cidade de Valdivia (Ainil), no sul do Chile, no território mapuche de Wallmapu (Gulumapu), a oeste da Cordilheira dos Andes. É professor na Faculdade de Humanidades e Artes da Universidade de Concepción. Licenciou-se em Artes Visuais em 2001 e concluiu um mestrado em Cinema Documental na Universidade do Chile em 2013. Em 2015, estudou óptica cinematográfica na Escola Internacional de Cinema e Televisão de San Antonio de los Baños, Cuba, com apoio do Fundo de Fomento Audiovisual do Ministério da Cultura do Chile. A sua obra fílmica desenvolve-se a partir de um método indígena, que denomina “Cinema Medicina”, baseado numa visão cosmogónica e circular mapuche. No campo curatorial, propõe uma abordagem contra-colonial a museus arqueológicos e etnológicos, actuando como curador-curandeiro. Desde 2011 tem sido convidado a apresentar o seu trabalho e dar conferências em instituições como as Universidades de Nova Iorque, Yale, Princeton, Utah e Berkeley (EUA), a Universidade de San Andrés (Bolívia), e o Encontro das Culturas no México, focando-se na resignificação de objectos patrimoniais mapuche em colecções privadas e museus. Participou em residências artísticas e cinematográficas em França, Taiwan, Colômbia e México. Em 2021 recebeu o Prémio de Criação da Universidade de Concepción e, em 2022, foi nomeado pela Fundação Cisneros (CIFO) para o seu programa de bolsas. Entre as suas exposições colectivas destacam-se: Chilean Miracle (2014, Los Angeles), DE Celerate (2020, Nova Zelândia), Sobre el principio del tiempo (2021, Museu Reina Sofía, Madrid), e REPARAÇÃO / REPAIR / REPARAR(2024, Hangar/Lisboa). Entre as individuais: Kalül Trawün (2010–11), Wenupelon (2015–21), Malón Wiño (2017) e Trig Metawe Kura (2022). Em 2024 participa em Ancestros Hoy: Histórias Visuais de Mulheres Migrantes no Wadsworth Atheneum Museum of Art, EUA. Os seus filmes foram exibidos em várias bienais internacionais e festivais como a Bienal de Berlim (2020), Bienal de Havana (2022), Bienal SIART (Bolívia, 2017), Trienal do Chile (2009), Festival ImagiNATIVE (Toronto), Festival de Cinema Latino de Toulouse (2012–2024), e o Festival de Cinema de Morelia (México, 2013). Desde 2013, a sua obra é distribuída pela Vtape (Toronto, Canadá).
Maíra Zenun (1982) é multiartista e socióloga, curadora e poeta brasileira em trânsito. Nasceu no Rio de Janeiro, foi criada em Petrópolis, cresceu entre Brasília e Goiás, e hoje vive na Linha de Sintra. Sua trajetória articula ciências sociais, maternar, amar, artes visuais e cinematográficas. Possui: Mestrado em Fotografia Artística (IPCI/2022), onde desenvolveu o projeto autobiográfico ASHANTI ESTÁ EM CASA; Curso Técnico em Audiovisual (Multicompetências/2022); Doutorado em Sociologia do Cinema, com a tese “A CIDADE E O CINEMA NEGRO: o caso FESPACO” (UFG/2019); Mestrado em Sociologia (UnB/2007); além de algumas formações stricto senso, residências artísticas e cursos livres em multimídia, educação, performance e poesia. Em 2016, participou da criação da Nêga Filmes, coletivo de mulheres negras que produz filmes, ensaios fotográficos, performances, livros, ministra cursos e organiza ciclos de cinema. Faz parte do Cineclube da Linha de Sintra. Participa do INMUNE (Instituto da Mulher Negra/PT), da UNA (União Negra das Artes) e do Coletivo MBONGI_67. Integra o projeto FILMASPORA/FCT como bolsista. É autora de dois livros, participou em algumas coletâneas de poesia, além de possuir ensaios e artigos científicos publicados.
Olinda Tupinambá (Pau Brasil, 1989) é multiartista, comunicadora, produtora cultural e realizadora audiovisual. Seu trabalho usa o corpo como corpo político para discutir a relação entre humanidade e natureza, com foco em questões ambientais. Desde 2015, dirigiu e produziu uma série de obras independentes entre documentários, ficções e performances. Curou e produziu importantes festivais como o Cine Kurumin, FeCCI e Amotara. Participou do grupo CARLA (UFBA/Manchester) e de exposições como Véxoa (Pinacoteca) e a 60ª Bienal de Veneza (2024), no Pavilhão Hãhãwpuá. É integrante da Rede Katahirine de Audiovisual das Mulheres Indígenas. Foi indicada ao Prêmio Pipa 2024.
Rodrigo Lacerda é antropólogo e realizador. Doutorado em Antropologia: Políticas e Práticas da Cultura e Museologia pela NOVA FCSH e ISCTE-IUL e mestre em Antropologia, especialização Culturas Visuais, pela NOVA FCSH. O seu doutoramento focou-se na relação entre cinema indígena e património no Brasil. Possui ainda uma pós-graduação pela National Film and Television School (Reino Unido) e um BA (Hons) em Film and Broadcast Production pela London Metropolitan University. É investigador no CRIA – NOVA FCSH / IN2PAST. É professor auxiliar convidado na NOVA FCSH desde 2017 e ocupou esse cargo na Universidade de Coimbra de 2019 a 2020. Realizou oito documentários e colaborou em várias produções cinematográficas em Portugal, Reino Unido e Brasil (neste caso, com cineastas indígenas). Co-organizou a Mostra de Ameríndia – Caminhos do Cinema Indígena no Brasil (2019), que decorreu na Fundação Calouste Gulbenkian e que trouxe a Portugal o curador indígena Ailton Krenak e vários cineastas e artistas indígenas. Suas áreas de investigação são antropologia visual, cinema indígena, etnologia indígena e património.
Ziel Karapotó (1994, Karapotó Terra Nova – AL) é multiartista, curador e cineasta indígena, graduado em Artes Visuais pela UFPE. Atua nas artes visuais e no audiovisual, com obras como O verbo se fez carne (2019), Falas da Terra (2021) e Paola (2022). Em 2024, representou o Brasil na 60ª Bienal de Veneza com Cardume II, foi indicado ao Prêmio PIPA, participou do Festival Theaterformen (Alemanha) e curou o Cine Kurumin. É curador do Museu Indígena de Lagoa Queimada (BA) e pesquisa poéticas indígenas, identidade e o racismo contra povos originários do Nordeste.